sexta-feira, 29 de abril de 2016

              1 sonho



"Gritos e gargalhadas misturavam-se. Um grupo de
     crianças tomava banho num riacho. Um dos
  meninos, o mais agitado, era magro, cabelos longos,
pretos e brilhantes. Em pé, com a água na altura do
    peito, começou a bater na superfície do riacho com as
    mãos abertas, atirando água na direção de um menina
   que, sentada numa pedra da margem, mordia uma fruta.
Ao receber a ducha, deu um pulo. Era da cor do café ralo,
    pernas finas e longas, cabelo cheio comprido e liso, nariz
     curto, lábios grossos e um pouco salientes.
      O menino continuava dando palmadas na superfície do rio,        
         levantando cortinas de água:
       - Toma Nia!
         Só deixou de espalmar a água quando ela lhe acertou nas costas a              
                  fruta que comia, gritando com raiva:
                      - Pára, Aur!"





6 sonho


- Tá bom. Pode vir - falou o homem
Finalmente, Aur conseguira convecer o pai. Pela primeira vez 
iria acompanhar os homens numa caçada em direção ao norte, onde 
        não havia paredão.
                Os seis homens avançavam, seguindo o curso do rio, velozes 
                      e enfileirados. Aur ia no meio. Caminhavam agora mais 
                        devagar, beirando a mata, e paravam muitas vezes, 
                           observando atentamente o chão. A cada pegada que 
                           encontravam, conversavam sobre o animal que o 
                                     deixara.
Ouviu-se um longo e rouco rugido, vindo da 
esquerda. Fixando os olhos assustados, Aur viu uma 
anta caída, com as víceras espalhadas pelo chão. 
Tinha a pata traseira dilacerada. 
Um Tigre-de-dente-de-sabre arrancava fatias de 
carne com as garras da mão direita, que cortavam 
como facas.
Lentamente e em silêncio, os homens se 
afastaram de costas, inclinados para a frente, olhos 
fixos no tigre.  Atravessando a mata rala, onde 
já estavam protegidos, Aur olhou rapidamente para 
trás e pôde ver o tigre recomeçara a arrancar pedaços 
de carne da anta com suas garras afiadas. Teve vontade 
de segurar na mão de seu pai. 
Ofegava e seu coração disparou.




Ultimo sonho



Na esplanada em frente à gruta, ardia uma grande fogueira que amarelava a noite. Os moradores estavam sentados em círculo. Ninguém falava. O minhoquinha chorava. Dentro do círculo, perto do fogo, havia duas macas, semelhantes a andores de procissão.
Dois homens levantaram-se e caminhavam devagar até as macas, onde apanhavam uma braçada de folhas. dirigiram-se até a fogueira e com elas começaram a cobrir as brasas, até que não se viu mais nenhuma. Elevou-se então uma rala coluna esbranquiçada de fumaça em direção à Lua. Quando a fumaça aumentou, todos se levantaram, esticaram os braços para o ar e começaram a gritar juntos, em triste ladainha: -Vão! Vão! Vão! Nas macas já sem folhas, podiam-se ver, como que adormecidas, duas pessoas.  -Vão! Vão! Vão!
As palavras repetidas eram como um eco dolorido. E os braços de todos, agitando-se sobre as cabeças, pareciam empurrar o espírito de alguém para o alto, juntamente com a fumaça. Viram-se então, claramente, os dois corpos: eram Aur e Nia. 
Duas mulheres começaram a cantar enquanto banhavam as duas crianças com água. Havia flores na água. Depois colocaram uma fita na fronte de Aur, e em Nia uma coroa de folhas.
Amanhecia. Quatro homens carregavam as macas feitas de troncos finos amarrados com cipós e dirigiram-se lentamente para a entrada da caverna. Várias tochas foram acesas na fogueira e todos penetraram até bem no fundo, lã no escuro, onde ninguém costumava ir.
O cortejo parou diante de dois buracos alongados, escavados no chão. Sobre elas deitaram primeiro Aur e depois, ao lado, Nia. Um homem cobriu os dois corpos com capim e galhos de árvores. Depois, todos se espalharam, recolhendo pequenas pedras que depositavam, cuidadosamente, cobrindo a folhagem. 
O primeiro a colocar duas pedras foi o Minhoquinha. Chorava. Deixou também uma flor em cada monte de folhagem.
Nunca se descobriu o que fez com que Aur e Nia dormissem para sempre.

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